domingo, 25 de setembro de 2011

Insígnia Negra - 1ª Temporada

Capítulo 4

Mends era filha de Eduardo, um investigador policial aposentado e sempre teve fascínio pelos casos que ele relatava, quando ainda estava na ativa. Até os quinze anos - mais ou menos - não entendia o motivo pelo qual o pai sempre desviava de suas perguntas sobre suas investigações. Somente mais tarde se deu conta de que ele tentava poupá-la de histórias e fatos violentos e inescrupulosos.
Ela sabia que de um jeito ou de outro seguiria uma carreira parecida com a dele, estava no sangue. Herdara sua inteligência analítica e sua perspicácia. Com o passar do tempo, e se sentindo mais apta a opinar, apresentava uma idéia ou outra ao pai sobre suas investigações. Na verdade, isso era um artifício para se engajar no meio policial.
Como era de se esperar de um pai zeloso e acostumado aos horrores da profissão, ele não queria aquela vida para a filha. Desejava que se formasse médica, advogada ou qualquer outra profissão que a levasse para longe daquele mundo bizarro. Ledo engano. Mends sempre rebatia que se fosse médica seria legista, que se fizesse direito, tentaria ser delegada e assim por diante. O velho investigador percebeu que seria impossível deixá-la de fora, mas, numa última tentativa, ofereceu-lhe uma passagem para aperfeiçoar o inglês nos EUA.
Para surpresa de todos a garota aceitou a proposta. O investigador respirou aliviado, pensando que finalmente a filha esqueceria aquela loucura, talvez encontrasse um americano legal e engatasse um romance, ou mesmo que tomasse gosto por outra área. Podia ser fotografia, artes, literatura, finanças... qualquer coisa que não envolvesse cadáveres esfacelados ou loucos psicóticos querendo mostrar alguma coisa.
Mends sabia o que queria. E nos EUA além do inglês, cursou psicologia, o que serviu para delírio e alívio do pai, mas sua real intenção era trabalhar com analista comportamental e assim prestar assessoria em investigações criminais.
Agora, após quinze anos fora do Brasil, Mends compunha equipes de investigação em todo país, principalmente quando se tratava de assassinatos em série. Era uma das poucas profissionais a realizarem esse tipo de trabalho.
A tarde já havia terminado com muito trabalho entre Maurício e ela, e a noite já se fazia presente quando ele decidiu encerrar as atividades.
- Mends, são quase oito horas e apesar de estarmos trabalhando aqui com todas as informações do caso, tenho que preparar aquele relatório para te entregar cedo. Então continuamos amanhã, ok?
- Claro, Maurício. Só vou dar uma repassada nas anotações e já vou embora também.
Com apenas algumas horas, Mends já havia traçado o perfil de Maurício: solitário, reservado, inteligente, alguém cuja alta confiança é muito forte. Sabia que não era casado, pois numa breve observação em sua mesa não encontrara nada, nenhuma foto de mulher, filhos ou animais de estimação. Era alguém que apresentava forte interesse por sua carreira, isso ela não pôde deixar de notar pelo fato dele mesmo desejar fotografar as cenas dos crimes, mas percebera também certa hesitação em lhe passar todos os dados, melhor que isso, sentiu que Maurício guardava para si algo a mais do que ele havia passado. Chegou a pensar que talvez ele enxergasse sua presença como desnecessária, por saber ou deduzir algo sobre os assassinatos que a equipe toda ainda não conseguia ver. Pensou consigo mesma que o momento era para enfrentar o monstro que estava à solta lá fora e deixou o perfil de Maurício para ser esmiuçado depois.
Começou a esboçar o perfil do criminoso e analisar a vitimologia. Notou que as crianças estavam passeando em shoppings ou parques, que estavam acompanhadas por seus pais ou familiares, eram sempre meninos com idade entre seis e oito anos, que não andavam sozinhos por aí, e sendo assim podiam ser excluídas de um grupo de risco. Sua assinatura consistia em deixar uma figa de ouro nas mãos dos meninos. Ela já sabia que estava lidando com um sociopata, organizado e que tinha entre 30 e 35 anos. Algo mais lhe chamou atenção, pois analisando suas anotações, percebeu que elas estavam sendo mortas dentro de um ciclo e que acontecia uma evolução nas agressões conforme a idade. E isso, com certeza, representava uma grande importância para o criminoso. Já passava da meia-noite quando decidiu encerrar, ainda que contrariada, suas atividades daquele dia, mas obstinada como era, sabia que se continuasse entraria madrugada a dentro e na manhã seguinte estaria faminta, sem banho e com a mesma roupa.
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