segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Insígnia Negra - 1ª Temporada

Capítulo 7
Os dois ainda estavam dentro do veículo, quando Mends resolveu lhe dar alguns pequenos toques e combinar uma estratégia bem simples para conduzirem o trabalho com a família em questão.
- Maurício, essas famílias esperam que estejamos trazendo alguma nova notícia ou uma resposta final sobre o assassinato de seus filhos. Nosso trabalho aqui é sermos solícitos sem que nos envolvamos emocionalmente e o objetivo é traçar a vitimologia de uma maneira mais detalhada para que possamos acrescentar dados ao perfil e dessa maneira, cada vez mais, afunilar nossas opções e assim pegarmos esse assassino.
Ótimo, agora vou ter que criar empatia. Ela mais do que ninguém sabe o quanto isso é difícil para uma pessoa como eu. Se correr o bicho pega, mas se ficar ele come. É melhor interpretar esse personagem para que ela pare de me analisar o tempo todo.
- Ok, Mends, eu imagino que isso não será nada fácil para nenhum dos lados. Então eu faço a parte solícita e você faz seu trabalho.
Ele não pode deixar de ver um sinal de interrogação bem grande em sua atitude. Estava começando a despistá-la.
É Maurício quem toca a interfone da casa.
- Bom dia! A Sra. Sandra e o Sr. Antunes. Sou o perito do DHPP e essa é nossa Analista Criminal, Srta. Mends. Nós ligamos e pedimos que pudessem nos receber para conversarmos um pouco sobre seu filho.
- Claro, vou chamar meu marido. Entrem, por favor.
De volta à sala, os pais de Iago, são quase unânimes em sua pergunta.
- Vocês já pegaram esse maluco desgraçado?
Dessa vez é Mends quem responde deixando que eles escutem pela primeira vez sua voz, pois até então sua atenção estava voltada para tudo ao seu redor.
- Infelizmente ainda não, mas acreditem estamos trabalhando duro para que possamos pegá-lo e levá-lo a justiça.
- Sabem, desde o dia que nosso pequeno Iago desapareceu, nossas vidas parou. Saímos pouquíssimas vezes à rua, a Sandra está vivendo à base de medicamentos e a maior parte do dia e da noite ela fica no quarto dele. O fato de pegarem o assassino e o fazer pagar por suas atrocidades, nos trará um pouco de alívio, mas nesse momento tudo o que enxergamos é a dor, a raiva, a revolta, o caos e a saudade imensurável do nosso pequeno filho. Nós nunca mais teremos nossas vidas restabelecidas.
Maurício se antecipa e como parte do seu teatro esboça um gesto de conforto e solidariedade aos pais do menino, mas a única coisa que compartilha com eles é sua sede de justiça. Também sente algo, que caso soubesse como é, poderia descrever como pena! Pena por não poder mostrar aquelas pessoas o fim mais do que merecido que ele daria ao assassino.
Mais uma vez ele nota a expressão de dúvida advinda da face de Mends.
- Sra. Sandra, sei que é difícil e que parte das perguntas que lhe farei já foram feitas pela polícia, mas entenda que tudo, absolutamente tudo, até mesmo um detalhe que para vocês possa parecer bobo, para meu trabalho fará toda a diferença. Eu preciso saber como foi aquele dia desde o começo.
É Antunes que começa a responder tudo o que Mends pergunta. Sua postura firme parece uma rocha, mas é sabido que aquele homem tem se mantido assim, porque a esposa precisa de sua força nesse momento. Um irá se apoiar no outro para consegui seguir em frente, mas nunca conseguirão deixar de olhar para trás.
- Bem, naquela manhã nós nos levantamos um pouco mais tarde do que de costume, pois era julho, mês de férias escolares e as nossas também. Faltavam algumas coisas para serem compradas antes da viagem que realizaríamos e decidimos sair para comprar. Era por volta das 13 horas quando fomos para o shopping almoçar. Terminamos de comer e o Iago pediu se podíamos ver os brinquedos numa loja especializada. Lembro que mesmo sendo um dia de semana o shopping estava bem movimentado, não tanto quanto aos sábados e domingos, mas o movimento era maior devido as férias. O Iago gostou muito de um brinquedo desses heróis que a garotada da idade dele gosta e que tinham acabado de lançar. Pediu se podíamos comprar um e eu disse que não, pois estávamos nos preparando para a viagem e tínhamos muitos passeios para fazer e que no retorno se houvesse uma sobra de dinheiro que daí poderia pensar no assunto.
Dessa vez é Sandra quem fala sobre o filho. Sua voz é forte, mas apresenta uma leve consternação ao ser ouvida. Era óbvio que aquela mulher havia sido marcada para sempre em sua vida e que sua confiança, em si mesma e até no mundo, fora absolutamente dilacerada, deixando-lhe apenas um vazio e uma dor intensa, refletida agora em sua maneira de se comunicar com o mundo.
- Sabe, o Iago não era uma criança marrenta, ele aceitava bem quando não dava para fazer algo que queria. Apesar de não sermos uma família com um alto padrão financeiro, nós sempre pudemos dar o que ele nos pedia, mas fazíamos questão de não acostumá-lo mal, pois não queríamos um filho crescendo sem limites e achando que podia ter tudo de mão beijada da vida. Era um menino muito bom, sempre disposto a ajudar, não era respondão, gostava da escola e era muito curioso. Sempre questionador, queria saber os porquês das coisas. Acho que por isso ele aceitava tão bem quando lhe privávamos de algo, pois era muito bem conversado.
Sandra faz uma pausa, se desculpa dizendo que não consegue mais e começa a chorar. Nesse momento nem sua voz fragilizada é possível ser escutada.
- Sr. Antunes, algo de diferente aconteceu naquele dia antes do desaparecimento do Iago? Alguém se aproximou de maneira mais inoportuna ou de forma suspeita? Algum comentário ou conversa com um estranho que pudesse lhe despertar interesse? Ou mesmo que o senhor não tenha notado nada de suspeito, mas qualquer tipo de interação com estranhos que pudesse passar de maneira corriqueira e até mesmo normal a ponto de não lhes chamar atenção?
- O shopping estava cheio, como mencionamos, mas não consigo me lembrar de nenhum episódio em particular. Quero dizer podemos ter esbarrado em alguém sem querer, mas definitivamente nenhuma interação maior do que essa.
- Alguém se aproximou do Iago enquanto vocês não estavam de olho? Interagiu com ele?
- Não, absolutamente ninguém.
Sandra interrompe nesse momento porque se lembra de algo.
- Apenas um menino se aproximou do Iago, mas era uma criança que estava brincando na loja e tinha aproximadamente a idade dele. Lembro que o Iago me perguntou se poderia ajudar o amiguinho a procurar um brinquedo que ele havia perdido e eu perguntei se era dentro da loja ele me disse que sim e eu recomendei que não se afastasse. Eu e o Antunes ficamos olhando os brinquedos, pois o aniversário do Iago se aproximava e aproveitávamos para ter uma idéia do que daríamos a ele, mas ele estava bem ali o tempo todo e diversas vezes eu o chamava pelo nome e ele respondia. Até que teve um momento em que eu vi o amiguinho brincando sozinho e então o chamei e ele simplesmente não respondeu, daí eu perguntei para o menino pelo Iago e ele disse “ele está aqui atrás nos brinquedos dos super heróis”, mas ao chegar à seção ele não estava. Comecei a entrar em pânico e a gritar por ele, mas sem resposta, percebi uma agitação dos pais na loja, cada um já foi pegando seus filhos, procurando por eles, e uma agonia começou a tomar conta de mim. O Antunes nessa hora já estava do lado de fora da loja gritando por ele. Daí eu nem sei pra onde o amiguinho foi, pois o pânico foi tomando conta e eu não conseguia mais pensar em nada.
Sandra a essa altura já está aos prantos novamente, sem condições de dar prosseguimento ao relato. Antunes assume ainda mantendo sua postura firme e continua contando tudo.
- Eu corri até a porta do shopping e alertei a segurança que imediatamente fechou as portas do mesmo e então iniciamos uma busca, mas ao certo não sabíamos a quanto tempo ele já estava sumido, para nós parece que foi em questão de segundos, pois a Sandra o estava monitorando o tempo todo. As buscas não deram em nada, a polícia já foi acionada dali mesmo e quando olhamos para o lado de fora do shopping já conseguíamos ver diversos veículos de emissoras de TV, carros da polícia, muita gente do lado de fora e também de dentro.
- Meu desespero já era tão grande que eu queria ir perguntando de um a um o que ele havia feito com o Iago. Na minha visão eram todos culpados, qualquer um deles poderia ter feito aquilo.
- As buscas não deram em nada, então prestamos depoimentos na polícia. O próprio delegado Tobias nos aconselhou a não falar com a imprensa e ficarmos em casa para no caso de um possível contato do Iago conosco.
- Os dias foram passando, o desespero e a angustia aumentando, até que um dia ouvimos pelo noticiário a morte de mais uma criança, na mesma hora nos dirigimos para o local e nem nos deixaram nos aproximar. Uma policial veio até nós e pediu se poderíamos acompanhá-la. Ao chegarmos ao IML aquele único fio de esperança que tínhamos se esvaiu e o desespero, a dor e a revolta já tomou conta assim como a certeza do porque estávamos ali também. Fui eu quem fez o reconhecimento do corpo, pois a Sandra não se agüentava em pé de tanto chorar.
- Sinto muito por sua perda, verdadeiramente sinto muito. Disse Mauricio aos pais do menino.
Sandra, chorando menos agora faz uma pergunta para Mends.
- Srta Mends, você nos disse que não é uma policial e sim um analista comportamental, correto?
- Sim, isso mesmo. Eu sou responsável por toda a análise que envolve o comportamento da vítima, do criminoso, do crime em si.
- Por quê? Por que tamanha maldade com uma criança, por que o nosso pequeno Iago teve sua vida ceifada de maneira tão violenta? Que tipo de pessoa pode fazer algo assim contra uma criança?
- Sra Sandra, sei que não vai, em momento nenhum, justificar, mas talvez a senhora possa encontrar um pouco das respostas às suas perguntas no que vou lhe dizer. A pessoa que fez isso ao Iago a as demais crianças tem sérios problemas psíquicos. É uma pessoa atormentada por algo que provavelmente aconteceu em sua vida ainda quando era criança e provavelmente ela está reproduzindo, em seus atos deturpados e violentos, o que aconteceu em sua vida.
Antunes também já não se agüenta e percebendo isso Mends anuncia o fim da conversa, agradecendo e garantindo-lhes que o criminoso pagará por seus atos. Ela entrega a eles um cartão com seus contatos e diz que se mais algum detalhe sobre aquele dia for lembrado que então, não hesitem em procurá-la.
Assim, Mauricio e Mends se despedem e saem da casa dos pais de Iago. A feição de Mends era imparcial, pois á havia lidado com outros casos de assassinatos em série. O que ela não pode deixar de notar foi que por trás de toda aquela encenação de “humanidade” do Maurício, havia um ar gélido, um mistério que permeava sua identidade, mas que ela não conseguiria penetrar, pois sua atenção e foco estavam voltados para os crimes contra as crianças em questão. Não conseguia, é verdade, deixar de pensar nesse perfil.
É Mauricio quem a traz de seus pensamentos que parecem estar tão longe. No que será que ela pensava? Seria em sua atuação, teria ela percebido tão claramente o quanto criar empatia era tarefa difícil para ele? Ou ela estaria tão consternada com tudo o que viu e ouviu que se perdera dentre aqueles breves segundos?
- Mends, podemos ir? Ainda temos mais duas visitas agendadas. E nosso próximo destino é a casa do casal Fasoli, que fica na região de Pinheiros.




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terça-feira, 11 de outubro de 2011

Insígnia Negra - 1ª Temporada

Capítulo 6
Por volta das treze horas, Maurício e Mends saem da delegacia. Ele segue em direção ao pátio das viaturas para pegar o carro da perícia científica para realizaram as visitas, mas Mends se antecipa a ele e diz:
- Não, não. Vamos no meu carro, pois tudo o que não precisamos e desejamos são os vizinhos curiosos atrapalhando nosso trabalho. E eu dirijo! Quero ter certeza de que apesar de ter estado nos EUA por muito tempo comendo donuts eu ainda posso me lembrar muito bem dos caminhos dessa cidade.
A brincadeira estava rebatida.
Ao entrarem no carro, Mends quis saber mais sobre a vida dele. Na realidade Maurício sentiu-se sendo vigiado, quase que interrogado para falar mais abertamente, mas sabia como dar um nó nela sem que a mesma percebesse, afinal de contas ninguém consegue detectar os sinais de linguagem e expressão numa pessoa tão fria. Mal sabia ela que inclusive ele já tinha notado que estava passando pelo seu raio X durante todo o tempo em que estiveram juntos desde o dia anterior. É inevitável um analista comportamental não agir assim com todos que cruzam o seu caminho. E Mends era muito boa no que fazia, mas não sabia que ele era ainda melhor.
Pensou consigo mesmo: - que comece o jogo!
Mends era curiosa e observadora e isso fez com que ela não deixasse de notar a solidão e certo distanciamento que ele nutria ao seu redor.
- Mauricio, eu soube que seus pais eram juízes. Você não pensou em seguir a carreira deles?
- Na realidade não! Entender a mente humana sempre foi um grande mistério para mim, por isso decidi cursar psicologia e logo depois fazer o curso de criminalística, pois acreditava que de certa maneira estaria levando a diante o legado de meus pais. Eu sempre que penso neles sinto uma ânsia por justiça, pois essa é a imagem que associo, principalmente ao meu pai, quando surge sua lembrança.
- Você poderia ter estudado para ser um analista de perfil, como eu. Nunca passou pela sua cabeça?
- Ah, não! Apesar de me interessar bastante pelo assunto, eu me vejo como um grande expectador. E verdade seja dita, o campo desse trabalho aqui no Brasil é bem pequeno. E ainda que eu tivesse pensado em trabalhar fora do país, teria que me preocupara com a Manuela, a quem não poderia deixar.
Sentiu-se um pouco decepcionado por não poder compartilhar com ela todo seu conhecimento como analista comportamental, pois na verdade era esse era o seu grande trunfo que o fazia atingir seus objetivos e conquistar seus troféus.
Mends queria saber mais, porém as respostas de Maurício foram ficando curtas, o que significava que para ele existia um certo desconforto ao falar de sua vida.
Ela continuou falando algumas coisas sem muita importância, mas ao mesmo tempo um silêncio foi tomando conta de si e ele começou, nesse instante, a lembrar-se da infância.
Seus pais eram juízes. Os mesmos morreram quando ele tinha 4 e Manuela 02 anos de idade. Foram criados pela tia materna e seu marido, que nunca lhes deixaram faltar de nada e ainda não usufruíram de um centavo sequer da herança destinada a eles. Para qualquer outra criança poderia ser muita sorte ter contado com tamanha dedicação e carinho que receberam após a perda dos pais, mas para ele, isso não era o suficiente. Cresceu sem que ninguém soubesse que naquele fatídico dia, havia visto tudo do colo da tia. Viu quando os pais estavam saindo do carro e a chegada de dois homens vestidos de preto que atiraram a queima roupa neles, matando-os imediatamente. Acreditava que só havia escapado porque a tia entrou correndo e gritando com ele nos braços e os assassinos foram embora.
Seus tios assumiram a guarda dos dois, mudaram para Bauru, uma cidade do interior de SP relativamente grande. Alimentaram a vida toda que os pais haviam morrido num acidente de carro. Manuela sempre acreditou enquanto ele fingiu durante toda sua vida que essa era a sua verdade e mais do que isso conseguiu esconder de maneira tão teatral sua verdadeira essência.
Ao crescer e completar 17 anos já sabia que queria ser perito criminal. Com 18 anos voltou para São Paulo e fez um curso particular na área de perícia e paralelamente investigou tudo o que podia sobre o assassinato dos pais. Encontrou os dois matadores e ainda que de maneira desajeitada sem um MO estabelecido, começou a aplicar sua justiça por eles.
Cursou psicologia onde, em seus estudos, enxergou quase todas as respostas para o que sentia e fazia. Completou sua graduação com uma pós em criminalística.
Suas experiências começaram por volta dos 13 anos, mas nunca levantou suspeita, pois sua inteligência e esperteza garantiam seu segredo. Chegou a realizar um teste de QI onde obteve um resultado de 160 pontos.
Com isso percebeu de que lado desejava estar. Entendia que poderia fazer parte do enorme índice de criminosos alojados em presídios ou poderia usar tudo o que tinha a seu favor para saciar sua essência.
Dois anos mais tarde, Manuela decidiu vir morar em São Paulo, para também cursar faculdade. E apesar da presença da irmã ser algo que ele gostava, sentia a necessidade de mantê-la a uma distância para que tivesse mais privacidade em suas atividades. Logo sugeriu a irmã que procurasse em apartamento e justificou que seria melhor para que a mesma pudesse se sentir mais independente e responsável. No começo isso soou um pouco estranho para ela, pois se sentia meio que rejeitada pelo irmão, mas a destreza e inteligência de Maurício foram aos poucos mostrando como isso seria ótimo para ela, sem que nunca percebesse que era um benefício infinitamente maior para ele.
Ao chegar a residência dos pais do primeiro menino assassinado, o chamado de Mends pelo seu nome o fez despertar do breve flash que acabara de ter sobre sua trajetória.
- Maurício, chegamos.



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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Insígnia Negra - 1ª Temporada

Capítulo 5
Antes das sete horas, Mends já estava na sala de investigações cedida com exclusividade para caso. Maurício chegou quinze minutos depois com dois copos de café e um saco de pão de queijo, comprados na lanchonete da esquina.
 - Bom-dia, Mends. Sei que nos EUA você devia comer muito donuts, mas aqui o pão de queijo prevalece!
Com um sorriso dissimulado, arrebate a provocação:
- Bom-dia, Maurício. Obrigada pela gentileza, mas essa história de donuts é invenção de Hollywood. Na verdade, os policiais americanos gostam mesmo é de uísque e cerveja! E se quer saber, você acertou na mosca! Adoro pão de queijo!
A piada não surtiu o efeito que ele esperava. O raciocínio de Mends era o que se poderia chamar de crítico e analítico ao mesmo tempo. Preferiu manter a postura.
- Bem, aqui está o relatório que me pediu. Montei um esquema por assassinato. Você vai encontrar desde a queixa de desaparecimento até o depoimento de algumas pessoas que poderiam ter visto algo; fotos das cenas dos crimes e das vítimas, análise forense e os relatórios do legista.
- Obrigada, Maurício. Gostaria de visitar as famílias das vítimas hoje à tarde. Peça Jamile para ligar e informá-los sobre a nossa visita.
- Não podemos simplesmente intimá-los? Posso dar um jeito nisso.
- Não creio que seja uma boa idéia, pois você terá que mencionar ao telefone que ainda não temos nenhuma resposta sobre os crimes. E além do mais, observar sua família dentro de sua residência, analisar o comportamento e até mesmo os objetos das vítimas, fará com que meu trabalho se torne mais completo e eficaz. Precisamos correr contra o relógio, pois analisando o caso existe uma cronologia e um ciclo, que se repete, e minha experiência indica que logo ele atacará de novo. Aliás, ele vai continuar matando até ser pego pela polícia, ele não tem a menor intenção de parar, pois ele liberou, enfim, o que o aprisionava há anos e a cada morte ele vai precisar reviver tudo aquilo novamente. Mais uma coisa, tudo o que você sabe sobre o caso foi incluído nesse relatório?
- Claro, sou muito detalhista para algo ter passado despercebido.
- Maurício, melhor você se apressar, são muitas visitas a realizar. Quero que vá comigo.
- Vou falar com Tobias e apresentar as perspectivas que já tenho e assim solicitar, que antes do almoço façamos uma apresentação preliminar de tudo que temos de informações até aqui.
- Ok, enquanto isso solicite à Jamile que dê os telefonemas antes do almoço.
Às dez e meia da manhã a equipe estava reunida na sala.
Tobias, de pé, ao lado de Mends, lhe apresentou formalmente os demais funcionários. Estavam sentados Maurício, Jamile, os investigadores Vicente e Paulo, os profissionais da equipe forense composta por Ágata, Patrícia, Renan, Guilherme, o fotógrafo Jonas, peça desnecessária nesse caso, uma vez que Maurício roubava-lhe as cenas principais e o deixava somente com o trabalho pequeno.
- Obrigada, Tobias. Venho para somar nessa investigação, pois minha função aqui é apenas traçar uma direção mais afunilada do nosso assassino. Ao analisar os fatos, evidências, vítimas, conversar com seus parentes e amigos, dentre outras ações, farei com que nosso trabalho seja mais direcionado e assim mais rapidamente poderemos deter o criminoso. Bem, ontem, em conjunto com Maurício, pude analisar maiores detalhes acerca do nosso assassino. Procuramos por um homem que tem entre 30 e 35 anos, pois é uma espécie de data limite para que um sociopata comece a agir e como não temos relatos de casos similares ao longo desses últimos anos podemos acreditar que ele segurou toda essa violência e sentimento de ódio. Ele é um sociopata, o que para nós indica que é produto do meio em que viveu, afirmo isso com toda certeza, pois se observarem a posição em que ele ajeita os corpos e por sua assinatura única, que é deixar uma figa de ouro nas mãos de suas vítimas, posso concluir que ele esta reproduzindo uma espécie de ritual, uma passagem de sua vida. Isso mesmo senhores, nosso criminoso passou por uma situação  idêntica– ela falava com entusiasmo, gesticulava, entrar na mente daqueles psicopatas era o que mais gostava de fazer. - Ele não pode ser considerado um louco, pois é extremamente organizado, inteligente, não deixa pistas. É metódico e perfeccionista, pois modus operandi é o mesmo desde o primeiro crime, quase como se houvesse planejado isso nos mínimos detalhes há muito tempo.
Mends circula um ponto de interrogação no quadro branco com um pincel vermelho.
- Ele tem um trabalho que lhe permite se ausentar por alguns dias, do contrário não ficaria com os meninos por tanto tempo, sem que alguém desse por sua falta, posso afirmar isso, porque do dia da queixa do desaparecimento ao dia do encontro dos corpos temos um período amplo, se os meninos tivessem morrido antes disso a autópsia revelaria, o que não é o caso, pois a mesma constata que as mortes ocorreram em no máximo cinco horas antes de serem encontrados. Isso já nos ajuda, pois podemos pensar em trabalhadores cujas profissões são itinerantes, tais como um caminhoneiro ou um motorista de ônibus turístico, um taxista e até um representante comercial. O local onde ele capta as vítimas é conhecido para ele devido a esse trabalho, pois as vítimas sumiram em plena luz do dia, em horário comercial, o que indica que ele está realizando algum trabalho pelo local.
Os olhares dos presentes eram de espanto e admiração. Mends falava com a desenvoltura de um veterano, para uma “civil”, ela sabia demais.
- Com base nisso, Paulo e Vicente, peço-lhes que revisem as filmagens das câmeras dos shoppings e solicite as gravações que estiverem instaladas em comércios próximos às regiões. Sei que não podemos contar com uma grande quantidade das mesmas, principalmente as das ruas, mas não nos custa tentar.
Os investigadores assentiram.
- Continuando, de acordo com o relatório do Dr. Ricardo, os corpos foram lavados com um produto de uso animal, que nos mostra que ou ele tem cachorros ou gatos, o que, em minha opinião, não seria viável, pois sociopatas não conseguem se apegar a nada, ou ele faz isso num centro veterinário, em alguma propriedade no interior que crie animais ou até mesmo num canil. Dada a hora da morte e todo preparativo que permeia os crimes, afirmo que ou ele fica com o corpo por algumas horas para reviver o êxtase da morte ou ele não está a mais de duzentos quilômetros de distância da região de desova dos corpos. Os locais de desova são sempre os mesmos. São ermos, relativamente isolados e ao lado de córregos, o que indica que ele conhece os mesmos e sabe como funciona a rotina, ou seja, ele não quer que o corpo fique por mais tempo do que o planejado, ele sabe que em questão de aproximadamente uma hora alguém vai encontrá-lo. Meu palpite pessoal é de que ele assiste tudo de camarote, ou volta para reviver o crime. Estamos trabalhando com um assassino cíclico, pois as vítimas apresentam seis, sete e oito anos, o ciclo se repetiu duas vezes e já começou de novo. Ele não vai parar até ser detido e acredito que se não o pegarmos, nossa próxima vítima terá sete anos de idade. Esse fato é de extrema importância para ele, pois nos indica que aconteceu algo que desencadeou esse monstro exatamente nessa idade.
Maurício, só se deixou impressionar por sua desenvoltura, pois era muito fechado para se expor dessa maneira. Além do mais como poderia entregar de bandeja seu próximo troféu?


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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Insígnia Negra - 1ª Temporada


Capítulo 3


Passou no IML, acompanhou a autópsia, coletou as primeiras informações sobre o assassinato e mandou processar todo material recolhido da cena do crime.
Assim que saiu de lá passou um rádio para o delegado informado seus últimos passos e comunicou que estava indo para o estúdio revelar as fotos tiradas pela manhã.
Cerca de duas horas após entrar em seu estúdio, estava bem ali, naquelas fotos, o que ele procurava.
Juntou apenas as fotos que anexaria ao seu relatório e saiu rumo a delegacia, uma vez que precisava montar uma grande pasta de informações para a Srta. Mends.
Ao chegar viu o delegado acenando e o chamando para sua sala.
- Maurício, essa é a Srta. Mends. Não sei se já foram apresentados anteriormente, mas sua ajuda será de grande contribuição para apresentarmos uma resolução rápida a toda essa sujeira.
- Srta. Mends, esse é Maurício, nosso perito criminal responsável pelo caso das crianças desaparecidas. É ele quem vai lhe colocar a par dos detalhes técnicos da investigação.
Eles se cumprimentaram com forte aperto de mãos.
Ele admirava seu trabalho, apesar de saber que seus esforços seriam desnecessários nesse caso, pois ele já tinha tudo o que precisava saber. Era uma pena o tempo precioso de uma analista de perfil criminal ser desperdiçado dessa maneira, mas o que podia fazer, são ossos do ofício, como se costuma dizer.
- Maurício, é de extrema importância que possamos fornecer os detalhes mais minuciosos para a Srta. Mends, para que contribuamos com sua pesquisa.
- Delegado, gostaria de lhe pedir que me chamasse apenas de Mends, assim como a você também, Maurício. Vamos trabalhar juntos e verdadeiramente dispenso esse tipo de formalidade.
- Então vamos começar, Mends, pois tenho muitas informações para lhe passar. Já estou trabalhando num relatório detalhado para lhe entregar amanhã cedo.
- Acomodem-se na sala ao lado onde se encontram os arquivos do caso que dessa forma ficará mais fácil o acesso às informações. Daqui a pouco me junto a vocês.
Já na sala em questão, Maurício começa a reportar as informações e Mends vai anotando tudo.
- Sabe Maurício, no meu trabalho quanto mais conhecemos as vítimas, mais próximos estaremos do agressor. Vamos nos concentrar nas crianças nesse momento. Conte-me tudo o que puder de cada uma delas. Também terei que conversar com os pais, para obter detalhes mais específicos que indique algum tipo de relação mais relevante para o assassino as escolher.


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domingo, 25 de setembro de 2011

Insígnia Negra - 1ª Temporada

Capítulo 4

Mends era filha de Eduardo, um investigador policial aposentado e sempre teve fascínio pelos casos que ele relatava, quando ainda estava na ativa. Até os quinze anos - mais ou menos - não entendia o motivo pelo qual o pai sempre desviava de suas perguntas sobre suas investigações. Somente mais tarde se deu conta de que ele tentava poupá-la de histórias e fatos violentos e inescrupulosos.
Ela sabia que de um jeito ou de outro seguiria uma carreira parecida com a dele, estava no sangue. Herdara sua inteligência analítica e sua perspicácia. Com o passar do tempo, e se sentindo mais apta a opinar, apresentava uma idéia ou outra ao pai sobre suas investigações. Na verdade, isso era um artifício para se engajar no meio policial.
Como era de se esperar de um pai zeloso e acostumado aos horrores da profissão, ele não queria aquela vida para a filha. Desejava que se formasse médica, advogada ou qualquer outra profissão que a levasse para longe daquele mundo bizarro. Ledo engano. Mends sempre rebatia que se fosse médica seria legista, que se fizesse direito, tentaria ser delegada e assim por diante. O velho investigador percebeu que seria impossível deixá-la de fora, mas, numa última tentativa, ofereceu-lhe uma passagem para aperfeiçoar o inglês nos EUA.
Para surpresa de todos a garota aceitou a proposta. O investigador respirou aliviado, pensando que finalmente a filha esqueceria aquela loucura, talvez encontrasse um americano legal e engatasse um romance, ou mesmo que tomasse gosto por outra área. Podia ser fotografia, artes, literatura, finanças... qualquer coisa que não envolvesse cadáveres esfacelados ou loucos psicóticos querendo mostrar alguma coisa.
Mends sabia o que queria. E nos EUA além do inglês, cursou psicologia, o que serviu para delírio e alívio do pai, mas sua real intenção era trabalhar com analista comportamental e assim prestar assessoria em investigações criminais.
Agora, após quinze anos fora do Brasil, Mends compunha equipes de investigação em todo país, principalmente quando se tratava de assassinatos em série. Era uma das poucas profissionais a realizarem esse tipo de trabalho.
A tarde já havia terminado com muito trabalho entre Maurício e ela, e a noite já se fazia presente quando ele decidiu encerrar as atividades.
- Mends, são quase oito horas e apesar de estarmos trabalhando aqui com todas as informações do caso, tenho que preparar aquele relatório para te entregar cedo. Então continuamos amanhã, ok?
- Claro, Maurício. Só vou dar uma repassada nas anotações e já vou embora também.
Com apenas algumas horas, Mends já havia traçado o perfil de Maurício: solitário, reservado, inteligente, alguém cuja alta confiança é muito forte. Sabia que não era casado, pois numa breve observação em sua mesa não encontrara nada, nenhuma foto de mulher, filhos ou animais de estimação. Era alguém que apresentava forte interesse por sua carreira, isso ela não pôde deixar de notar pelo fato dele mesmo desejar fotografar as cenas dos crimes, mas percebera também certa hesitação em lhe passar todos os dados, melhor que isso, sentiu que Maurício guardava para si algo a mais do que ele havia passado. Chegou a pensar que talvez ele enxergasse sua presença como desnecessária, por saber ou deduzir algo sobre os assassinatos que a equipe toda ainda não conseguia ver. Pensou consigo mesma que o momento era para enfrentar o monstro que estava à solta lá fora e deixou o perfil de Maurício para ser esmiuçado depois.
Começou a esboçar o perfil do criminoso e analisar a vitimologia. Notou que as crianças estavam passeando em shoppings ou parques, que estavam acompanhadas por seus pais ou familiares, eram sempre meninos com idade entre seis e oito anos, que não andavam sozinhos por aí, e sendo assim podiam ser excluídas de um grupo de risco. Sua assinatura consistia em deixar uma figa de ouro nas mãos dos meninos. Ela já sabia que estava lidando com um sociopata, organizado e que tinha entre 30 e 35 anos. Algo mais lhe chamou atenção, pois analisando suas anotações, percebeu que elas estavam sendo mortas dentro de um ciclo e que acontecia uma evolução nas agressões conforme a idade. E isso, com certeza, representava uma grande importância para o criminoso. Já passava da meia-noite quando decidiu encerrar, ainda que contrariada, suas atividades daquele dia, mas obstinada como era, sabia que se continuasse entraria madrugada a dentro e na manhã seguinte estaria faminta, sem banho e com a mesma roupa.
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Insígnia Negra - 1ª Temporada


Capítulo 2


São seis e meia da manhã quando o delegado Tobias recebe um chamado do investigador Vicente.
- Delegado, não vou nem falar bom dia, porque o mesmo já começou quente. Foi encontrado mais corpo! Estou me dirigindo para a cena do crime e o Maurício já está lá.
O delegado Tobias já não conseguia mais controlar a imprensa nem a população que clamava por respostas. Já era o sétimo assassinato de meninos que acontecia na região de Pinheiros em menos de dois meses. E o que era pior, a queixa de um oitavo desaparecimento de um menino com as mesmas características e circunstâncias já havia sido dada pelos pais.
A polícia já sabia que se tratava de um assassino em série, pois o modo de agir era sempre o mesmo e a vitimologia também. Todas as vítimas eram do sexo masculino e com idade similar, os garotos tinham entre seis e oito anos no máximo.
Tobias chega à cena do crime e percebe que está atrasado, pois imprensa toda já se encontra no local, assim como muitos curiosos e também Maurício.
- Bom dia, Maurício. Como você chega sempre antes de mim? Você não dorme nunca? Bem, e o que temos aí?
Maurício ri, ignora todo o restante e vai logo aos finalmente.
- Estava a caminho da delegacia quando ouvi o chamado pelo rádio da polícia, isso me ajudou a ser um dos primeiros a chegar, um pouco antes das 07:00 horas. Parece que aquela senhora nunca mais vai pensar em jogar detritos no córrego. Foi ela quem encontrou o corpo e ligou para a polícia.
- E a cena, como estava?
- Parcialmente preservada, pois ainda era cedo e como a área é relativamente isolada, nos garantiu o mínimo, ou melhor nenhum contato dos moradores com a mesma, exceto pela senhora que o encontrou.
- Já recolheu as evidências e rastreou o local em busca de pistas?
- Já, mas, tal qual como os demais crimes, nosso assassino parece muito astuto, pois não deixa nenhuma pista, nem mesmo marcas de sapatos, pois assim como nas outras cenas é como se ele flutuasse para deixar os corpos. Aliás não encontramos se quer marcas de pneus adentrando nas redondezas, o que nos indica que ele carrega as vítimas no colo.
- E é claro que você dispensou o fotógrafo e fez suas próprias fotos, não é mesmo?
- Sim senhor, eu as fiz.
- Não entendo o motivo disso, mas para mim é indiferente desde que eu tenha as fotos das cenas dos crimes.
- Não se trata apenas de uma mania, mas sim de obter as fotos da maneira exata que preciso para analisar a cena do crime. O que meus olhos vêem é diferente dos do fotógrafo e o que minha câmera capta ninguém mais vê.
A princípio as duas primeiras crianças foram dadas como um desaparecimento comum e ambos os casos tratados de maneira isolada.
Cerca de cinco dias após ser dada a queixa dos pais do último menino o corpo dele foi encontrado às margens de um córrego próximo a região da USP. O local era ermo e relativamente isolado, dificilmente alguém teria testemunhado o ocorrido. O menino foi encontrado deitado de barriga pra cima, com as mãos juntas sobre o corpo, na mesma posição em que os mortos são enterrados. Os pulsos e os tornozelos estavam amarrados com uma corda elástica azul, semelhante às utilizadas para prender móveis e objetos em carretos e caçambas de pick-ups. Foram tão fortemente amarrados que causaram fissuras profundas. A perícia constatou que o garoto foi amarrado vivo, pois as marcas nos pulsos e tornozelos indicavam que além da força empregada no nó, ele ainda fez força para tentar se livrar das cordas, pois do contrário os machucados não seriam tão profundos. Somente a autópsia poderia determinar com certeza se o menino sofrera ou não abuso sexual, mas tudo indicava que sim, pois a bermuda havia sido removida e apenas colocada sobre o corpo com a parte de trás virada pra cima e apresentava sangue na mesma.
Aparentemente nada foi levado do garoto, mas foi encontrada entre as mãos uma pequena figa de ouro. Constatou-se também que o menino não fora morto ali e sim trazido e posicionado daquela maneira.
Após o primeiro garoto ser encontrado morto, não tardou para que os demais também fossem aparecendo, nas mesmas condições e sempre em lugares relativamente desertos.
Definitivamente a descrição das roupas e características físicas remetia ao menino Carlos Alberto Figueira, o sétimo garoto a ser morto.
Os pais dele deram as mesmas informações que os demais forneceram sobre seus filhos. Todos eles estavam acompanhados da família, passeando e no momento em que se afastavam um pouco ou que os pais se distraiam, ao olhar ao redor a criança havia sumido.
A mídia e a população cobravam por uma solução, mas a polícia ainda não tinha nada de muito concreto para apresentar. E assim o delegado Tobias tinha em suas mãos sete assassinatos sem nenhum suspeito e também sem nenhuma diretriz.
Enquanto o corpo estava sendo recolhido o delegado pensava em convocar a Srta. Mends para compor a equipe de investigação, quando recebe um telefonema.
- Estou seguindo para a delegacia. Veja o que consegue processar da cena do crime, quero isso pra ontem. Maurício, ao que tudo indica, pode-se concluir que novas vítimas aparecerão por aí. Esse cara não vai parar até que o peguemos.Temos que parar esse lunático antes que ele consiga matar de novo.
Na realidade nesse momento ele já não pensa mais em convocar a Srta. Mends, ele já tem certeza que precisa de sua contribuição.
- Ok, Tobias. Te encontro na delegacia após sair do IML.
- A propósito vou convidar a Srta. Mends para compor a equipe. Então prepare um relatório minucioso para apresentarmos à ela.
- Amanhã pela manhã ele estará em suas mãos.
Pensou consigo mesmo que grande idéia o delegado teve de chamá-la e mesmo sabendo que ela poderia e muito, atrapalhar seus planos, não se abalou, pois de pouco adiantaria sua ajuda porque agora tinha certeza sobre sua teoria.

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Insígnia Negra - 1ª Temporada



Capítulo 1


Na região oeste de São Paulo moravam os irmãos Maurício e Manuela.
Os pais deles haviam morrido num acidente de carro durante uma viagem ao interior de São Paulo e deixara uma herança bem expressiva para os dois.
Manuela morava num apartamento enquanto Maurício morava sozinho numa casa ampla e antiga. A mesma era perfeita para realizar seu trabalho. Contava com um porão que fora totalmente adaptado às suas reais necessidades e sem que fossem deixados de lado todos os detalhes, escolhidos a dedo, de cada item ali presente.
Manuela se formara em biomedicina e trabalhava num núcleo de pesquisas relacionado ao estudo de DNA.
Maurício era um homem muito reservado, mas extremamente observador o que o levou a viver numa certa solidão e que por sua vez contribuiu para que ele se enveredasse por um caminho não muito ortodoxo. Ele perito da Polícia Científica e sempre que ocorria um assassinato, lá estava ele. Gostava muito do que fazia, ao passo que sua irmã sempre o questionava sobre o mesmo, uma vez que o julgava muito mórbido, mas dedicação sem limites ele nutria por algo muito maior e muito mais obscuro em sua vida.
Maurício guardou os arquivos que estudava e finalmente desceu para seu porão. Lá embaixo havia um pequeno estúdio de revelação que ele usava para revelar algumas fotos tiradas das cenas dos crimes, mas seu verdadeiro talento estava bem guardado atrás de uma porta pesada e que era aberta através de um sistema de senhas e leitura digital.
Após revelar suas as últimas fotografias da cena de um crime, ele se dirigiu para sua sala. Precisava verificar se tudo estava pronto.
A sala em questão não tinha muita coisa, mas o que tinha era o suficiente para realizar seus intentos. Havia uma prateleira com um cronômetro, ferramentas de aço inox e uma mesa do mesmo material. A mesa possuía um circuito de drenagem em suas laterais e cabeceira, que levava a um compartimento que desembocava num ralo que era ligado diretamente ao um sistema de esgoto independente da casa. Também na ponta da mesma havia um tornel de aço e em seu interior uma trituradora. Tudo isso era controlado por um sistema computadorizado.
A sala ainda contava com uma estante que acondicionava pequenos frascos de vidros cheios e no alto da mesma uma placa onde se lia: “Do pó viestes, ao pó voltarás”.
Era próximo das 10:00 horas quando ele trancou a sala, fechou o porão e saiu. Maurício precisava ir à casa do Rafael saber se ele havia conseguido as informações solicitadas.
Ambos se conheceram no curso preparatório para concurso público, eles queriam ser peritos. Rafael prestaria a prova para Polícia Federal na área de tecnologia da informação, enquanto Maurício para a perícia cientifica de São Paulo.
Alguns meses após o concurso ele soube que Rafael não havia passado e o contatou para saber se desejava prestar alguns serviços para ele e assim Maurício passou a usufruir de um diferencial que tornava seu trabalho mais fácil, por assim dizer.
Rafael era o cara que só vivia de seus trabalhos informais, escusos e sigilosos. Tornou-se uma espécie de hacker, mas não dos que invadem grandes sistemas, nada que chamasse atenção desnecessária. Usava sua habilidade para descobrir e vender informações pessoais e confidenciais a quem as solicitava. Seu maior e principal cliente era Maurício, o restante era coisa pequena.
Tocou a campainha e foi o próprio Rafael quem abriu a porta.
- Bom dia Rafael. Te acordei? Vim buscar o trabalho que te encomendei. O que conseguiu pra mim?
- Não muito, mas acho que já pode te ajudar. De toda essa lista consegui encontrar informações completas de apenas oito pessoas, das demais nada de muito concreto.
- Deixe-me ver o que tem aí?
Ele foi direto ao que lhe interessava. Na realidade sempre fornecia várias informações desnecessárias para encobrir o que realmente queria. Estratégia essa que sempre funcionava, pois na maioria das vezes ele entregava a Rafael os dados de pessoas das quais ele já sabia tudo misturado a pessoa da qual não sabia nada.
Maurício era muito esperto e agia com astúcia e cautela, sempre um passo a frente da investigação oficial. Durante a avaliação da cena do crime ele tirava algumas fotos das quais a polícia não teria acesso e colhia breves depoimentos extras oficiais, era assim que chegava ao seu objetivo final.
Ele sabia que havia deixado passar alguma coisa importante entre o terceiro e quinto garoto encontrado, mas ao analisar e comparar as fotografias do sexto assassinato percebeu que havia um fato que lhe chamou atenção e que não podia ser apenas uma simples coincidência. Foi então que imediatamente solicitou a Rafael que levantasse as informações que precisava para comprovar sua teoria.
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