terça-feira, 11 de outubro de 2011

Insígnia Negra - 1ª Temporada

Capítulo 6
Por volta das treze horas, Maurício e Mends saem da delegacia. Ele segue em direção ao pátio das viaturas para pegar o carro da perícia científica para realizaram as visitas, mas Mends se antecipa a ele e diz:
- Não, não. Vamos no meu carro, pois tudo o que não precisamos e desejamos são os vizinhos curiosos atrapalhando nosso trabalho. E eu dirijo! Quero ter certeza de que apesar de ter estado nos EUA por muito tempo comendo donuts eu ainda posso me lembrar muito bem dos caminhos dessa cidade.
A brincadeira estava rebatida.
Ao entrarem no carro, Mends quis saber mais sobre a vida dele. Na realidade Maurício sentiu-se sendo vigiado, quase que interrogado para falar mais abertamente, mas sabia como dar um nó nela sem que a mesma percebesse, afinal de contas ninguém consegue detectar os sinais de linguagem e expressão numa pessoa tão fria. Mal sabia ela que inclusive ele já tinha notado que estava passando pelo seu raio X durante todo o tempo em que estiveram juntos desde o dia anterior. É inevitável um analista comportamental não agir assim com todos que cruzam o seu caminho. E Mends era muito boa no que fazia, mas não sabia que ele era ainda melhor.
Pensou consigo mesmo: - que comece o jogo!
Mends era curiosa e observadora e isso fez com que ela não deixasse de notar a solidão e certo distanciamento que ele nutria ao seu redor.
- Mauricio, eu soube que seus pais eram juízes. Você não pensou em seguir a carreira deles?
- Na realidade não! Entender a mente humana sempre foi um grande mistério para mim, por isso decidi cursar psicologia e logo depois fazer o curso de criminalística, pois acreditava que de certa maneira estaria levando a diante o legado de meus pais. Eu sempre que penso neles sinto uma ânsia por justiça, pois essa é a imagem que associo, principalmente ao meu pai, quando surge sua lembrança.
- Você poderia ter estudado para ser um analista de perfil, como eu. Nunca passou pela sua cabeça?
- Ah, não! Apesar de me interessar bastante pelo assunto, eu me vejo como um grande expectador. E verdade seja dita, o campo desse trabalho aqui no Brasil é bem pequeno. E ainda que eu tivesse pensado em trabalhar fora do país, teria que me preocupara com a Manuela, a quem não poderia deixar.
Sentiu-se um pouco decepcionado por não poder compartilhar com ela todo seu conhecimento como analista comportamental, pois na verdade era esse era o seu grande trunfo que o fazia atingir seus objetivos e conquistar seus troféus.
Mends queria saber mais, porém as respostas de Maurício foram ficando curtas, o que significava que para ele existia um certo desconforto ao falar de sua vida.
Ela continuou falando algumas coisas sem muita importância, mas ao mesmo tempo um silêncio foi tomando conta de si e ele começou, nesse instante, a lembrar-se da infância.
Seus pais eram juízes. Os mesmos morreram quando ele tinha 4 e Manuela 02 anos de idade. Foram criados pela tia materna e seu marido, que nunca lhes deixaram faltar de nada e ainda não usufruíram de um centavo sequer da herança destinada a eles. Para qualquer outra criança poderia ser muita sorte ter contado com tamanha dedicação e carinho que receberam após a perda dos pais, mas para ele, isso não era o suficiente. Cresceu sem que ninguém soubesse que naquele fatídico dia, havia visto tudo do colo da tia. Viu quando os pais estavam saindo do carro e a chegada de dois homens vestidos de preto que atiraram a queima roupa neles, matando-os imediatamente. Acreditava que só havia escapado porque a tia entrou correndo e gritando com ele nos braços e os assassinos foram embora.
Seus tios assumiram a guarda dos dois, mudaram para Bauru, uma cidade do interior de SP relativamente grande. Alimentaram a vida toda que os pais haviam morrido num acidente de carro. Manuela sempre acreditou enquanto ele fingiu durante toda sua vida que essa era a sua verdade e mais do que isso conseguiu esconder de maneira tão teatral sua verdadeira essência.
Ao crescer e completar 17 anos já sabia que queria ser perito criminal. Com 18 anos voltou para São Paulo e fez um curso particular na área de perícia e paralelamente investigou tudo o que podia sobre o assassinato dos pais. Encontrou os dois matadores e ainda que de maneira desajeitada sem um MO estabelecido, começou a aplicar sua justiça por eles.
Cursou psicologia onde, em seus estudos, enxergou quase todas as respostas para o que sentia e fazia. Completou sua graduação com uma pós em criminalística.
Suas experiências começaram por volta dos 13 anos, mas nunca levantou suspeita, pois sua inteligência e esperteza garantiam seu segredo. Chegou a realizar um teste de QI onde obteve um resultado de 160 pontos.
Com isso percebeu de que lado desejava estar. Entendia que poderia fazer parte do enorme índice de criminosos alojados em presídios ou poderia usar tudo o que tinha a seu favor para saciar sua essência.
Dois anos mais tarde, Manuela decidiu vir morar em São Paulo, para também cursar faculdade. E apesar da presença da irmã ser algo que ele gostava, sentia a necessidade de mantê-la a uma distância para que tivesse mais privacidade em suas atividades. Logo sugeriu a irmã que procurasse em apartamento e justificou que seria melhor para que a mesma pudesse se sentir mais independente e responsável. No começo isso soou um pouco estranho para ela, pois se sentia meio que rejeitada pelo irmão, mas a destreza e inteligência de Maurício foram aos poucos mostrando como isso seria ótimo para ela, sem que nunca percebesse que era um benefício infinitamente maior para ele.
Ao chegar a residência dos pais do primeiro menino assassinado, o chamado de Mends pelo seu nome o fez despertar do breve flash que acabara de ter sobre sua trajetória.
- Maurício, chegamos.



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