segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Insígnia Negra - 1ª Temporada

Capítulo 5
Antes das sete horas, Mends já estava na sala de investigações cedida com exclusividade para caso. Maurício chegou quinze minutos depois com dois copos de café e um saco de pão de queijo, comprados na lanchonete da esquina.
 - Bom-dia, Mends. Sei que nos EUA você devia comer muito donuts, mas aqui o pão de queijo prevalece!
Com um sorriso dissimulado, arrebate a provocação:
- Bom-dia, Maurício. Obrigada pela gentileza, mas essa história de donuts é invenção de Hollywood. Na verdade, os policiais americanos gostam mesmo é de uísque e cerveja! E se quer saber, você acertou na mosca! Adoro pão de queijo!
A piada não surtiu o efeito que ele esperava. O raciocínio de Mends era o que se poderia chamar de crítico e analítico ao mesmo tempo. Preferiu manter a postura.
- Bem, aqui está o relatório que me pediu. Montei um esquema por assassinato. Você vai encontrar desde a queixa de desaparecimento até o depoimento de algumas pessoas que poderiam ter visto algo; fotos das cenas dos crimes e das vítimas, análise forense e os relatórios do legista.
- Obrigada, Maurício. Gostaria de visitar as famílias das vítimas hoje à tarde. Peça Jamile para ligar e informá-los sobre a nossa visita.
- Não podemos simplesmente intimá-los? Posso dar um jeito nisso.
- Não creio que seja uma boa idéia, pois você terá que mencionar ao telefone que ainda não temos nenhuma resposta sobre os crimes. E além do mais, observar sua família dentro de sua residência, analisar o comportamento e até mesmo os objetos das vítimas, fará com que meu trabalho se torne mais completo e eficaz. Precisamos correr contra o relógio, pois analisando o caso existe uma cronologia e um ciclo, que se repete, e minha experiência indica que logo ele atacará de novo. Aliás, ele vai continuar matando até ser pego pela polícia, ele não tem a menor intenção de parar, pois ele liberou, enfim, o que o aprisionava há anos e a cada morte ele vai precisar reviver tudo aquilo novamente. Mais uma coisa, tudo o que você sabe sobre o caso foi incluído nesse relatório?
- Claro, sou muito detalhista para algo ter passado despercebido.
- Maurício, melhor você se apressar, são muitas visitas a realizar. Quero que vá comigo.
- Vou falar com Tobias e apresentar as perspectivas que já tenho e assim solicitar, que antes do almoço façamos uma apresentação preliminar de tudo que temos de informações até aqui.
- Ok, enquanto isso solicite à Jamile que dê os telefonemas antes do almoço.
Às dez e meia da manhã a equipe estava reunida na sala.
Tobias, de pé, ao lado de Mends, lhe apresentou formalmente os demais funcionários. Estavam sentados Maurício, Jamile, os investigadores Vicente e Paulo, os profissionais da equipe forense composta por Ágata, Patrícia, Renan, Guilherme, o fotógrafo Jonas, peça desnecessária nesse caso, uma vez que Maurício roubava-lhe as cenas principais e o deixava somente com o trabalho pequeno.
- Obrigada, Tobias. Venho para somar nessa investigação, pois minha função aqui é apenas traçar uma direção mais afunilada do nosso assassino. Ao analisar os fatos, evidências, vítimas, conversar com seus parentes e amigos, dentre outras ações, farei com que nosso trabalho seja mais direcionado e assim mais rapidamente poderemos deter o criminoso. Bem, ontem, em conjunto com Maurício, pude analisar maiores detalhes acerca do nosso assassino. Procuramos por um homem que tem entre 30 e 35 anos, pois é uma espécie de data limite para que um sociopata comece a agir e como não temos relatos de casos similares ao longo desses últimos anos podemos acreditar que ele segurou toda essa violência e sentimento de ódio. Ele é um sociopata, o que para nós indica que é produto do meio em que viveu, afirmo isso com toda certeza, pois se observarem a posição em que ele ajeita os corpos e por sua assinatura única, que é deixar uma figa de ouro nas mãos de suas vítimas, posso concluir que ele esta reproduzindo uma espécie de ritual, uma passagem de sua vida. Isso mesmo senhores, nosso criminoso passou por uma situação  idêntica– ela falava com entusiasmo, gesticulava, entrar na mente daqueles psicopatas era o que mais gostava de fazer. - Ele não pode ser considerado um louco, pois é extremamente organizado, inteligente, não deixa pistas. É metódico e perfeccionista, pois modus operandi é o mesmo desde o primeiro crime, quase como se houvesse planejado isso nos mínimos detalhes há muito tempo.
Mends circula um ponto de interrogação no quadro branco com um pincel vermelho.
- Ele tem um trabalho que lhe permite se ausentar por alguns dias, do contrário não ficaria com os meninos por tanto tempo, sem que alguém desse por sua falta, posso afirmar isso, porque do dia da queixa do desaparecimento ao dia do encontro dos corpos temos um período amplo, se os meninos tivessem morrido antes disso a autópsia revelaria, o que não é o caso, pois a mesma constata que as mortes ocorreram em no máximo cinco horas antes de serem encontrados. Isso já nos ajuda, pois podemos pensar em trabalhadores cujas profissões são itinerantes, tais como um caminhoneiro ou um motorista de ônibus turístico, um taxista e até um representante comercial. O local onde ele capta as vítimas é conhecido para ele devido a esse trabalho, pois as vítimas sumiram em plena luz do dia, em horário comercial, o que indica que ele está realizando algum trabalho pelo local.
Os olhares dos presentes eram de espanto e admiração. Mends falava com a desenvoltura de um veterano, para uma “civil”, ela sabia demais.
- Com base nisso, Paulo e Vicente, peço-lhes que revisem as filmagens das câmeras dos shoppings e solicite as gravações que estiverem instaladas em comércios próximos às regiões. Sei que não podemos contar com uma grande quantidade das mesmas, principalmente as das ruas, mas não nos custa tentar.
Os investigadores assentiram.
- Continuando, de acordo com o relatório do Dr. Ricardo, os corpos foram lavados com um produto de uso animal, que nos mostra que ou ele tem cachorros ou gatos, o que, em minha opinião, não seria viável, pois sociopatas não conseguem se apegar a nada, ou ele faz isso num centro veterinário, em alguma propriedade no interior que crie animais ou até mesmo num canil. Dada a hora da morte e todo preparativo que permeia os crimes, afirmo que ou ele fica com o corpo por algumas horas para reviver o êxtase da morte ou ele não está a mais de duzentos quilômetros de distância da região de desova dos corpos. Os locais de desova são sempre os mesmos. São ermos, relativamente isolados e ao lado de córregos, o que indica que ele conhece os mesmos e sabe como funciona a rotina, ou seja, ele não quer que o corpo fique por mais tempo do que o planejado, ele sabe que em questão de aproximadamente uma hora alguém vai encontrá-lo. Meu palpite pessoal é de que ele assiste tudo de camarote, ou volta para reviver o crime. Estamos trabalhando com um assassino cíclico, pois as vítimas apresentam seis, sete e oito anos, o ciclo se repetiu duas vezes e já começou de novo. Ele não vai parar até ser detido e acredito que se não o pegarmos, nossa próxima vítima terá sete anos de idade. Esse fato é de extrema importância para ele, pois nos indica que aconteceu algo que desencadeou esse monstro exatamente nessa idade.
Maurício, só se deixou impressionar por sua desenvoltura, pois era muito fechado para se expor dessa maneira. Além do mais como poderia entregar de bandeja seu próximo troféu?


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